POR QUE TEMER A VAIDADE?
RAMA-SCHAIN /
America Paoliello Marques
Não é onde nos sentimos seguros que damos o testemunho.
Acomodar-nos à obscuridade para testemunhar humildade é negar-se a pôr à prova as conquistas espirituais no campo da verdadeira renúncia às vaidades, quando elas nos são gratuitamente atribuídas, tanto pelos que nos aprovam o esforço sem compreender-lhe o significado de provação, como pelos que nos atribuírem segundas intenções de prestígio pessoal.
O teste capaz de derrubar pela base a vaidade é sentirmos o apoio sincero dos que nos valorizam o esforço sem deixarmos que seja destruída a consciência do significado exato desse esforço, que é um meio de evoluir, um treino para burilamento de nossa personalidade eterna.
Ao mesmo tempo, é preciso não nos perturbarmos com os conceitos errôneos originários da inveja ou do despeito que nos procuram sugestionar afirmando ser o nosso trabalho fruto do exibicionismo doentio. Humildemente, admitimos que em ambas as afirmações – a do valor de nossas obras e a de nosso desejo de apresentar trabalho – existe um fundo de verdade, porém, nada mais que isso.
Somos ainda bastante imperfeitos para realizar em sintonia com o Pensamento Divino. Porém, seria absurdo esperar tal perfeição para concretizar nosso ideal de trabalho. Demonstraria, inclusive, que nos entregáramos à mais satânica das vaidades – a de desejarmos ser incorruptíveis, num grau de perfeição ainda impossível. Estaríamos ouvindo a Serpente que acenou aos nossos pais no Paraíso com a possibilidade de igualar o próprio Deus em sabedoria e perfeição.
A mais convincente prova de nossa humildade diante do Senhor é levarmos avante nossas tarefas, equilibrando-nos da melhor forma possível entre ambas as sugestões da vaidade – a que nos tenta convencer de que realizamos de maneira perfeita (grave engano) e a que nos acusa de feroz personalismo na auto-realização.
Entre ambas, nas lutas de todos os dias, será encontrada a verdadeira realização com o Senhor, na aplicação prática do “Conhece-te a ti mesmo”.
Dai de vós tudo que possuirdes com Amor para que se aproxime o dia no qual podereis afirmar: “Não me importo que seja imperfeita minha realização. Vale somente para mim que o Senhor me permita continuar tentando acertar”.
Por que temer a vaidade? Ela é uma contingência inseparável, em maior ou menor grau, das realizações humanas. Nosso psiquismo vive radicalmente condicionado ao pequenino eixo de nossas realizações, que é o “eu”. Seria impossível descondicioná-lo repentinamente. A prova que poderemos dar do nosso desejo de modificar essa situação é compreendê-la, aceitá-la como temporariamente insuperável e viver os testemunhos de humildade realizando o pouco que nos é possível, submetendo-nos à aprovação e à desaprovação do próximo como permanente exercício para a despersonalização do nosso ser.
A vida, com suas aparentes contradições, é o melhor buril para esculpir em nós a imagem fulgurante da ausência de amor-próprio capaz de nos identificar com o modelo simbolizado na expressão não ser como personalidade humana para Ser como personalidade eterna.
Só o Amor e o perdão vibrados incondicionalmente permitirão que no futuro sejamos capazes de nos imunizar contra o personalismo, o egocentrismo inerente à condição evolutiva que vivemos.
Paz,
Rama-Schain
Fonte: EVANGELHO, PSICOLOGIA E IOGA, Capítulo 4 (Mensagens)