MODÉSTIA
NICANOR /América Paoliello Marques
A modéstia não é um atributo inerente às situações apagadas no plano material. Representa uma expressão do espírito imortal, que pode e consegue vibrá-la independente de cargos ou posições.
Imaginai a Terra em sua etapa futura de evolução e colocai-vos, espiritualmente, na posição daqueles que então ocuparão os postos-chave da orientação do planeta. Para lá caminhais gradativa e insensivelmente. Não se dirá a vós —hoje ou amanhã ou, ainda, em determinada data terá início a era da fraternidade. Ela se inicia para cada espírito a partir do momento em que decide viver sua era de fraternidade. No futuro, as almas empenhadas em tal evento serão maioria pelos argumentos coercitivos da dor e da redenção por ela provocada. Porém, o relógio da eternidade não assinala o final exterior das épocas de transição. O chamamento é permanente. Uns entrarão na faixa das novas vivências já em pleno período caótico do final dos tempos, pelos testemunhos árduos do Amor Crístico; outros só sentirão essa necessidade quando todos os caminhos fáceis estiverem bloqueados.
Porém, que se faz necessário para que cada servo tome a si o papel que lhe cabe na grande transição, o mais breve possível?
Nós vos perguntaríamos — que espera o Cristo de cada um de nós? A todos que O cercavam ofereceu papel condigno para a adesão ao novo reino. Na maior parte dos casos, à exceção dos que O deviam seguir em caráter especial como apóstolos mais diretos, nenhuma alteração externa foi solicitada com relação à posição e aos compromissos normais da vida. Ao contrário, é de senso comum que o cristão tem como recomendação especial o desempenho reto de suas funções específicas, na posição em que a vida o tenha colocado.
Virtude, pois, não é a negação da ação, seja ela relacionada com este ou aquele setor da atividade. Assim como a humildade nem sempre é companheira da pobreza, o orgulho e a vaidade não são obrigatoriamente companheiros dos postos da evidência terrena.
Qual será o ideal do cristão com a nova fase do planeta? Se o Cristo deve imperar entre os que herdarão a Terra, seus seguidores terão todo o empenho em conquistar, com Ele, a orientação espiritual da humanidade. E como poderão fazê-lo se os que estiverem habilitados para esse empreendimento se recolherem, fugindo ao testemunho árduo de provas redentoras que permitirão ao Cristo atuar por seu intermédio?
A época em que o poder sobre as massas representava, quase invariavelmente, corrupção e venalidade precisa ser transferida para as coisas do passado. Os servos fiéis precisam galgar os postos-chave da realização no plano espiritual, disputando-os à repugnante deturpação do Bem, que é a cobiça egoística do poder.
O servo impregnado do Amor ao Bem busca-o como único objetivo de sua vida e não o repudia quando este lhe chega sob a forma de fortuna e da possibilidade de exercer com o Mestre tarefas que influenciem o mundo para auxiliá-lo a se redimir.
É da tradição humana que o poder, a fortuna e a fama constituem obstáculos absolutos e intransponíveis para as almas involuídas dos homens. Porém, como poderá o cristão comprovar a si mesmo o valor de suas conquistas interiores se essas duras provas forem capazes de arrefecer o seu idealismo?
Falamos em termos de futuro e precisamos começar a construí-lo no momento presente. Que os temores descabidos sejam alijados. Confiando na inspiração superior, o discípulo não poderá se negar a auxiliar o cumprimento da promessa de que “os mansos herdarão a Terra”. Já não se pede que renuncieis aos bens terrenos, mas que os conquisteis para o Senhor. Seu reino não era deste mundo na época em que passou entre vós, mas cabe a vós o dever de conquistar este planeta para uma integração cada vez maior com Ele.
Vencendo diariamente a batalha do Amor em vossas almas, avançai para as realizações que o Senhor vos apontar. Nesse final dos tempos Ele permanece como o general que orienta seus comandados para a batalha decisiva do Bem contra as trevas do desamor. Empenhando-vos sinceramente em servi-Lo, não vos preocupeis com o tipo de função que vos for entregue. Testemunhai com Amor vossa fé no futuro, quando as bem-aventuranças já não constituírem promessas e sim radiosas concretizações de paz. Vivei-as, ignorando o caos ao vosso redor. Sede empresários, sentinelas avançadas da nova era. Amai o Senhor, servindo-O onde quer que Ele vos solicite os préstimos.
Não vos esqueçais da falsidade de asserções como a de que “o hábito faz o monge”, pois, na realidade, podem existir almas de monge cobertas do ouro das situações impositivas da vida, nas convenções humanas ainda não dispensáveis, por força das circunstâncias involutivas do planeta.
Não julgueis pelas aparências. Dai o testemunho de que credes no Senhor, em Sua presença. Se vossa situação vos coloca entre os que devem dar o testemunho da evidência, dai-o com Amor e o Senhor será posto em destaque por vosso intermédio.
Desde então, a verdadeira modéstia terá surgido em vós, pois O reconhecereis como a força que vos conduz, independentemente das situações exteriores. E, pelas lutas em que vos empenhareis em Seu nome, aprendereis a subjugar as expressões inferiores de vosso espírito, pelos mecanismos interiores que sereis forçados a movimentar para permanecer-lhe fiéis, sejam quais forem os testes a que a vida vos submeter.
Fonte: A Rosa e o Espinho (1974), Parte I, Capítulo IX