SENTIMENTO DE FLUIDEZ PATRIÓTICA [1]

 em Transição Planetária

Desafio lançado ao Povo Brasileiro

Ramatis / América Paoliello Marques

 

Nota 1: O texto de apresentação – tópicos “Introdução”, “Considerações Gerais”, “Revelações Mediúnicas sobre o Brasil: Determinismo x Livre-Arbítrio”, e “Singularidade Brasileira segundo Cientistas Sociais” são de responsabilidade do Editor.  O texto de Ramatis/América Paoliello Marques começa com o tópico “BRASIL, TERRA DE PROMISSÃO: ANÁLISE DE RAMATIS”

 

Introdução

1 Como refletir sobre o tema Transmutação de Sentimentos quando pensamos num País? Em 1969, América Paoliello Marques psicografou “Brasil – Terra de Promissão”. Neste livro Ramatis esclarece que planejou–se uma formação espiritual do povo brasileiro que favorecesse o desabrochar do sentimento fraterno, de um sentimento de “fluidez patriótica”. Antes de olharmos mais detalhes a respeito do que esclarece esse Mentor sobre o tema, valem algumas considerações gerais.

Considerações gerais

2 A reencarnação do Espírito é parte de um planejamento cuidadoso. Criam-se oportunidades de reajustes considerando múltiplos espaços de aprendizagem. Com duplo propósito: ajudar tanto a evolução individual, como a evolução coletiva, de pequenos e grandes agrupamentos.

O Espírito reencarnante, conforme seu grau de maturidade, participa do planejamento do seu retorno à vida física. Para isso, recebe ajuda, estímulo e orientação dos seus Mentores Espirituais. E, finalmente, aceita desafios de vivência e cooperação fraterna em relação à Família, ao Trabalho, à Sociedade, e ao Planeta.

Naturalmente, este plano inclui o País, onde o Espírito renascerá. O sentimento nacional, como a autoestima excessivamente elevada ou excessivamente baixa, podem criar um clima de fraternidade, de ódio ou até de indiferença coletiva nas relações entre pessoas de um mesmo povo, ou entre diferentes povos. Conflitos históricos e guerras sangrentas mostram que esses são desafios perenes de transmutação de sentimentos para que o ser humano aprenda a viver em paz.

Nesse sentido, a formação do povo brasileiro apresenta traços singulares e o plano do Alto aponta para uma missão mundial do Brasil de caráter fraterno: um convite generoso do Mais Alto. Utopia? Realizável? Informações de duas fontes distintas, Espiritualidade e Ciência, tratam da questão e convergem.

Revelações Mediúnicas sobre o Brasil: Determinismo ou Livre-Arbítrio

Chico Xavier, psicografou “Brasil Coração do Mundo – Pátria do Evangelho”, ditada por Humberto de Campos.

Haveria, então, um determinismo ou planos perfeitos e infalíveis? Não, são elaborados Planos com ajuda dos Amigos Espirituais, para indivíduos e povos, porém existe a Lei do Livre-Arbítrio, que é respeitada. Não são “planos perfeitos”, são planos que podem e de vem ser “aperfeiçoados”. Enquanto os seres humanos pensam numa escala de tempo de dezenas de anos, os Espíritos Superiores pensam em séculos e milênios.

Os fatores tempo e perfeição nos conectam a Emmanuel: na obra A Caminho da Luz ele revela que Jesus já era um Espírito Puro [2] há 5 bilhões de anos, quando liderou a criação do Planeta Terra. Porém, nem o Mestre se considerava perfeito, pois disse: “Por que me chamas de bom? Ninguém é bom senão um só, Deus” (Marcos 10:18)

Singularidade Brasileira segundo Cientistas Sociais

O sociólogo italiano Domenico Di Masi coordenou em 2002 a pesquisa “Cara Brasileira”, [3]em que um dos tópicos trata do Sincretismo e Religiosidade: “Entre os elementos que mais realçam as diferenças entre o Brasil e os demais países estão os aspectos que refletem o sincretismo da cultura… O modo do povo brasileiro se relacionar, por exemplo, com os sistemas religiosos e a fé constitui uma característica muito peculiar no Brasil… A religiosidade múltipla e integrada representa forte característica nacional. No Brasil, há uma maioria que se diz “católica”, mas, ao mesmo tempo, são capazes de frequentar também os terreiros de umbanda ou centros espíritas, além de outros tipos de “culto”.

10 Segundo afirmou o cientista político Jorge Caldeira (que foi consultor do Projeto Brasil 500 Anos) numa entrevista de 2016[4]: “o processo de formação do Brasil é um processo único; é a primeira sociedade efetivamente multiétnica do planeta Terra.”

11 Assim, fontes espirituais e da ciência convergem. Vejamos como Ramatis aprofunda tudo isso.

 

BRASIL,TERRA DE PROMISSÃO: ANÁLISE DE RAMATIS (1969)

12 “O Brasil é o único país do mundo onde o amálgama[5] racial se faz sem grande restrições.

13 A característica máxima do Amor Crístico pregado no Evangelho de Jesus é a universalidade dos sentimentos fraternos. Em vista disso, julgamos mais provável obter-se uma vibração, por mínima que seja, desses sentimentos, numa coletividade heterogênea do que num conjunto de seres onde imperem quaisquer sentimentos exclusivistas.

14 A imunidade ao exclusivismo racial é inerente à alma do brasileiro nato, um apóstata das normas inflexíveis do nacionalismo cultivado pelos povos apegados à tradição. Esse sentimento de “fluidez patriótica” baseia-se na intuição profunda de que sua nacionalidade tem raízes nos princípios universalistas de Amor, incompatíveis com a consolidação de valores rígidos no plano material.

15 A força dos sentimentos patrióticos é uma energia emitida pelos espíritos afeiçoados ao local que lhes proporciona a alegria da renovação espiritual através da encarnação.

16 Pela natureza peculiar de sua formação, a alma brasileira não herdou um molde único em que forjar suas vibrações de civismo. Na impossibilidade de selecionar entre os muitos apresentados o que melhor lhe conviria, preferiu manter no estado fluido o amor às bênçãos recebidas através da encarnação nesse rincão privilegiado. Transferiu então suas expressões patrióticas para um nível menos concreto, transmitindo pela tradição de hospitalidade os sentimentos de grata satisfação pelos bens recebidos, considerando-os como usufruto e não como propriedade exclusiva.

17 Essa atitude parece ao observador superficial um tanto displicente e, muitas vezes, encoraja a intromissão indébita por parte do estrangeiro inescrupuloso que, diante da necessidade premente de um brasileiro menos avisado, insinua-se, induzindo-o a faltar com seus deveres de fidelidade ao bem comum. Isto, porém, por mais frequente que pareça, despertando o pânico entre os preclaros estudiosos do porvir nacional, representa procedimento nefasto, consequente da indigência moral inevitável, quando os valores da subnutrição espiritual e física imperam para desbaratar a energia incipiente de uma coletividade.

18 Entretanto, a eclosão infalível do progresso destinado a cada povo em seu zênite incumbir-se-á de incentivar a maturidade necessária às garantias da hombridade. Para o infeliz deseducado e desnutrido, a pátria é seu estômago, pois se ele não estiver em estado de garantir-lhe a sobrevivência, de nada lhe adiantará o pedaço de terra que tem sob os pés, senão para cobrir-lhe os restos mortais. Astuto como a raposa, o espírito ganancioso do forasteiro fareja a
carniça, na qual injeta algumas gotas da vitalidade venenosa do acumpliciamento para garantir a partilha de haveres que não lhe cabem por direito.

19 E quando nos referimos ao estômago não nos limitamos ao âmbito da sobrevivência física; há também aqueles que se julgam completamente cadaverizados em vida se não conseguirem locupletar-se com todos os bens disseminados à sua volta. Morrem de inanição psíquica por não alcançarem a opulência material. Não escapam à classificação entre os famintos do corpo e
da alma, pois a imaturidade de seus princípios morais clama abertamente sua indigência espiritual, como um estado de subnutrição psíquica mais grave, muitas vezes, do que a própria inanição física. São herdeiros da irresponsabilidade implantada como jogo da ganância primitiva dos colonizadores, não sabendo transferir ao plano moral o anseio de maiores lucros.

 20 Aprovamos o clamor que se ergue contra tais fatos, como necessidade educativa de corrigenda. É preciso esclarecer, entretanto, que a fase do desconhecimento da propriedade alheia, do egoísmo total, é mais ou menos prolongada, mas sempre existente no desenvolvimento do ser humano, tanto considerado individual como coletivamente. Toda sociedade tem que esmagar os germes desse sentimento doentio antes de avançar segura para melhores realizações, e não será essa uma maldição exclusiva da nacionalidade brasileira.

21 Consideramos “princípios contrários ao amor crístico” os sentimentos de orgulho e egoísmo que se revelam sutilmente disfarçados sob a forma de características naturais, como sejam o preconceito racial e a busca frenética de segurança no plano material.

22Os elementos étnicos formadores do povo brasileiro fundiram-se com o objetivo de proporcionar um ambiente no qual fosse impossível a predominância daquelas características negativas. Sendo sua coletividade heterogênea, neutralizou-se o orgulho racial tão decantado como característica “positiva” de um povo, mas que, na realidade, constitui forte incentivo à egolatria.

23 O povo brasileiro, por sentir-se desprovido das virtudes geralmente consideradas indispensáveis à formação de uma raça vitoriosa, furta-se à cristalização mental em torno de antigos vícios de um nacionalismo estreito e permite a penetração de valores de fraternidade, inexistentes em outras coletividades.

24 Vencidos encontram-se aqueles que, entregues ao culto da ilusão, entronizam os valores transitórios acima dos eternos. Só a humildade será capaz de oferecer na Terra um ambiente espiritual favorável ao esclarecimento; e como a incompreensão generalizada associou humildade à humilhação, como o orgulho tornou-se sinônimo de realização positiva nas mentes desviadas dos homens, perdeu-se totalmente o sentido do que seja a evolução harmoniosa do espírito dentro dos moldes normais de prosperidade, sem distorções mentais. Foi preciso então reiniciar na Terra o aprendizado do amor e da humildade, colocando em um ambiente desarmônico almas que se predispusessem à experiência definitiva da Humanidade nesse ciclo.

25 Enclausuradas numa inferioridade aparente diante de seus irmãos, passariam a pesquisar novo tipo de engrandecimento: o do espírito entronizado sobre a matéria. O clima de menor capacidade de realização material causado por uma inferioridade momentânea, fruto da consolidação da maturidade em vias de se efetivar, aliada às características étnicas pouco favoráveis à busca do progresso material, ofereceu os elementos de uma realização sui-generis sobre a face da Terra –
um povo fartamente provido de elementos materiais de grandeza, capazes de constituí-lo em líder da civilização, procurando valores que, entre outros povos, são realmente inexistentes. Esses, antes de conquistar a Verdade, buscam a consolidação dos interesses da vida atual e esta primazia inverte completamente o programa de evolução, fechando dentro de um círculo acanhado as conquistas das mais bem dotadas comunidades.

26 Existe, ainda, entre os brasileiros um certo espanto infantil diante da grandeza da herança que representa a sua terra. Como a criança a despertar para as vantagens que possui em estado latente, envaidece-se, embora não consiga utilizá-las e ainda se compraz na pesquisa das virtudes consideradas secundárias por seus irmãos mais velhos – os sentimentos de solidariedade que ligam entre si os herdeiros de raças aviltadas por esses mesmos irmãos.

27 O negro infeliz, o português degredado e o índio primitivo sofreram sempre o complexo de serem marginais da sociedade vitoriosa de seus irmãos terrenos e legaram ao povo brasileiro a herança de um atavismo racial feito de solidariedade recíproca, na qual busca defender-se, em sua inferioridade, da força avassaladora dos povos em evidência.

28 Devido a essa atitude psicológica, abrem-se os braços do brasileiro com facilidade para receber os elementos desajustados de toda e qualquer origem, pois a índole provada na incompreensão dos povos estrangeiros sente, como em sua própria carne, a dificuldade de qualquer indivíduo deslocado no seio da sociedade luzente dos povos privilegiados com as tradições de raças intocáveis. Mas, desde que os elementos estrangeiros lhe cheguem como representantes oficiais desses povos, retrai-se a capacidade de abrir–lhes o coração e forma-se em bloco único de resistência a interferências indébitas. Surge a consciência da nacionalidade e o brasileiro, embora não ataque individualmente, sabe formar-se como um todo, cheio de personalidade e deliberação.

29 Neutralizaram-se, pois, os princípios contrários ao amor crístico pela concretização na Terra do Cruzeiro, de um amálgama racial proveniente de tipos considerados inferiores pelos homens em geral, o que impediu o surgimento de um carma feito de orgulho. A formação psicológica tocada pelos elementos da dor de uma segregação racial tem mantido o povo brasileiro envolto pela ebulição de princípios heterogêneos resultantes da herança étnica recebida. Tal situação transitória impede-o de entregar-se, com o mesmo fervor de outros povos, à busca do progresso material, mantendo-o livre do perigo de uma solidificação de valores que, feita no momento atual da Humanidade, redundaria em estacionamento dentro da aura negativa que envolve as outras coletividades. Essa ebulição será prolongada, por mais algum tempo, a fim de ser incorporado à formação do povo brasileiro o produto de uma aprendizagem dolorosa, mas necessária: a observação da derrocada dos princípios de uma civilização materialista. A alma aberta desse conjunto de raças, em trabalho de consolidação, assinalará integralmente os ensinamentos de tais acontecimentos pois sua consciência coletiva, ainda não estabilizada,
acha-se como a cera moldável, por não haver ainda terminado seu período de formação psicológica.

30 Compreende-se assim a utilidade dupla de se ter colocado na terra brasileira um amálgama racial que, por ser heterogêneo, livrou-a do estigma do orgulho racial e impediu a consolidação prematura de valores, possibilitando a prorrogação da fase de sua maturidade psicológica a tempo de assimilar, de alma ainda virgem, os valores decisivos do expurgo cármico da humanidade terrena.

31 Uma extensa costa, como porta aberta, convidativa à imigração, simbolizando a alma fraterna que seria a característica básica de nova era. Braços abertos, o Brasil recebe seres de todas as procedências, conservando nas suas extensas florestas inexploradas uma reserva capaz de acolher, proteger e amar infinitamente a Humanidade, como um coração a extravasar imensas reservas de Amor.

32 Para a formação de uma raça “sui-generis”, sob o ponto de vista espiritual, colocou-se no ambiente brasileiro uma pequena amostra das  virtudes  de cada povo.

33 Ouvimos já a observação mordaz daqueles que insistem na afirmação da inferioridade racial, como se nos dissessem ironicamente “quem tudo quer, tudo perde”. E nós responderemos com a demonstração dos fatos pois, no grande amálgama racial que o conjunto brasileiro representa, perde-se, é verdade, a noção restrita de raça e de povo para ganhar-se em sentimentos fraternos.

 34 Faz-se necessário elevar coletivamente o padrão de espiritualidade da alma brasileira, acordando-lhe os sentimentos cristãos como valores extremos numa época de devassidão. Na intimidade de todo ser vibra um anseio sempre crescente de alcançar a felicidade como finalidade da vida – clamor indelével do espírito eterno, buscando, através das eras, a harmonia para a qual foi criado. Mas os homens, mergulhados na incredulidade, entregam-se ao prazer dos sentidos, esquecendo-se das alegrias imorredouras da alma. É preciso, pois, discernir claramente entre os diversos meios de satisfazer essa ânsia de prazer, inseparável da condição espiritual”.

 

Nota 2: Este texto “SENTIMENTO DE FLUIDEZ PATRIÓTICA” da obra Transmutação de Sentimentos  (p.121-130) será estudado no Grupo Reflexões América Paoliello Marques, na reunião de 4 de outubro de 2022 (terça, 20:00)

 

 

[1] Tema desenvolvido por Ramatis na obra “Brasil, Terra de Promissão” (América P. Marques, 1969).
[2] Livro dos Espíritos – questões 112 e 113 (está no Capítulo “Dos Espíritos”, item Escala Espírita, que a partir da questão 100 trata das categorias de evolução dos espíritos conforme seu grau de perfeição ou imperfeição.
[3] CARA BRASILEIRA – Capítulo 1 – Patrimônio Natural e Cultural: As Possibilidades de Valorização (Sebrae, 2002)
[4] A HISTÓRIA DO BRASIL EM 101 PERSONAGENS
[5] Houaiss – A raiz latina da palavra amálgama é “fusão”. Amalgamar é fazer ou sofrer mistura, combinação.

 

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