O SEXO COMO INSTRUMENTO DE PURIFICAÇÃO E ENGRANDECIMENTO DA ALMA
RAMATIS /América Paoliello Marques
Nesta hora em que a Humanidade se volta para os valores materiais como única fonte de bem-estar, na esperança de obter felicidade por meios inadequados, é oportuno examinar, sob o aspecto real, um dos instrumentos mais capazes de desvirtuar-se em mãos inábeis — o sexo.
Através dos milênios vem o homem cavalgando, com maior ou menor êxito, a alimária de seus instintos, desprezando-os ou superestimando-os, mas raramente se dando conta da poderosa força motriz que leva consigo e, mais dificilmente ainda, sentindo o verdadeiro objetivo a que se destina.
O Senhor colocou a atração do sexo como a mais remota manifestação do Amor Universal, como a ponte que ligaria os seres no despertar da consciência individual, ao grande envolvimento de Amor que paira sobre a vida. Justifica-se pois que seja o instinto que mais fortemente se manifesta nas criaturas após o de autoconservação. Existir para amar é uma conjugação de fatores que rege a vida normal, projetando-se através duma escala infinita de sublimação que conduz a graus cada vez mais aperfeiçoados de felicidade e paz!
Profundos trabalhos de renovação espiritual são executados sob o impulso desse instinto, sem que os interessados possam avaliar quanto devem à tão incompreendida atração do sexo.
Por ser a força mais generosa da vida, inebria o homem a ponto de distrai-lo do objetivo real a que se destina e, geralmente, só após profundas desilusões, sente-se ele capacitado a raciocinar sobre a forma adequada de aplicá-la.
É profundamente triste que ainda não haja alcançado a divulgação devida o conceito de que o sexo é uma força essencialmente libertadora, capaz de aproximar o homem do seu Criador, nas características primordiais de Sua natureza divina — criar e amar, dar vida e sustentá-la, doar-se para renovar a si e ao semelhante.
O homem que detém o controle dessa energia interior pode ver, no sexo oposto e no seu próprio, seres dotados de uma possibilidade maravilhosa de engrandecimento, mantenedores e guardiães da vida no planeta. Esta a função precípua do instinto iluminado pela razão.
A par dessa prerrogativa humana e eterna de modeladores de almas e de corpos, há as consequências correlatas de uma possibilidade crescente de amar e servir ao semelhante através do contato recíproco.
O homem, com suas características de liderança e firmeza, é capaz de transformar-se no apoio e no estímulo às realizações de suas irmãs, almas femininas que esperam amparo e incentivo para a realização do sonho de projetar-se no panorama da vida como intermediárias e manipuladoras das forças que se combinam para a continuidade da espécie.
Desse contato recíproco, em que cada qual deve dar-se para possuir, surge o jogo de forças morais e espirituais de transformar, sublimando, as características individuais, numa necessidade crescente de assimilação e reajustamento.
Não sabemos a qual dos dois aspectos atribuir maior realce, maior valor: se à reprodução em si ou à possibilidade de reajustamento recíproco, no estreito contato estabelecido entre os seres que a ela se entregam.
Mesmo aqueles que obedecem ao instinto de forma elementar, sem noção do seu elevado teor de espiritualidade, não escapam à influência educativa do convívio humano, a despertá-los para os princípios básicos do sentimento, degrau inicial para uma introdução aos valores eternos do espírito.
Como crianças atraídas à escola pelos folguedos, assimilam os ensinamentos de que ela é pródiga e, em breve, ver-se-ão promovidos a um grau superior de compreensão, sem mesmo se aperceberem.
Aquele pois que abre as portas da existência para novos seres, não só dá vida aos que chegam, mas especialmente está animando em si o desabrochar de valores espirituais, por ser forçado a multiplicar-se em seu mundo interior.
Molda-se aos acontecimentos, crescendo, à proporção que o tempo passa, na formação de um corpo de ideias e criações próprias, como se fosse, aos poucos, gerado para uma nova existência espiritual no seio generoso da vida!
Infelizmente, porém, há duas formas de deturpação interior do instinto, provindas da incompreensão causada por uma distorção psicológica:
- uns perdem de vista os valores eternos dessa força espiritualizante;
- outros, por sentirem sua intensidade, passam a temê-la tolhendo-a indefinidamente, negando-se a reconhecer a possibilidade de evoluir ao seu impulso.
Em ambas essas formas, o espírito encontra-se desviado.
Na primeira, nega-se a evoluir, estacionando no terreno das sensações animalizadas sem aspirar à essência divina dos valores eternos que se ligam a um fator essencialmente temporário e instável: o instinto sexual. Desnudam a grande verdade da vida de sua força espiritual contemplando-a qual estátua morta, incapaz de transfigurar-se.
Perdem o doce milagre da sublimação do amor, não ultrapassando a fronteira que separa a felicidade material da felicidade do espírito.
Que dizermos àqueles que se fecham à influência da carne por temor de enfrentá-la?
Estarão desenvolvendo as forças de repressão, aplicando suas energias num sentido de reter e não de sublimar e desenvolver.
A energia pura da espiritualidade que pode ser canalizada através da experiência do sexo é digna de transportar os homens aos degraus da purificação, se orientada num sentido verdadeiro e jamais degradará quem a sente e vive como uma bênção da vida.
Quem sobe aos cumes de uma espiritualização real, pode prescindir dessa forma embrionária do amor, mas jamais a sufocará enquanto existir.
Ao contrário, usufruirá, ao seu contato, das premissas de uma situação de espiritualidade em vias de se concretizar.
Não existe evolução consolidada para a sublimidade do amor espiritual quando for necessário sufocar o instinto.
Aquele que já o sublimou, orienta-o sem recalcá-lo; não foge dele porque não o teme e sente a verdadeira interpretação que lhe deve dar: fonte de união, de progresso coletivo, de amor, em suas manifestações primeiras.
A mente evoluída dirige o sexo. Canaliza-o para as suaves impressões do amor doação, que a aproxima do amor universal, no sentido verdadeiro de fraternidade, feliz por participar das lutas e problemas evolutivos dos seres a quem se liga.
Eis porque a evolução do instinto sexual leva o homem a congregar-se em famílias e, embora sua natureza animal muitas vezes clame contra essa condição restritiva, a situação de espírito em processo evolutivo não lhe permite mais prescindir do aconchego dos seres amados.
Muitas palavras têm sido pronunciadas em torno do problema que constitui para o homem tornar-se senhor de sua natureza animal, porém a solução para tal impasse só será alcançada quando sentir que prepondera em si a sensibilidade espiritual sobre a instintiva e isso só se fará quando souber alcançar as suaves vibrações do amor cristão ao semelhante.
À proporção que esta capacidade de amar em espírito e verdade se desenvolve, deixa o homem de esboroar-se contra a dureza do instinto animal, para guiá-lo como força útil aos seus objetivos mais altos.
A luta travada no caminho evolutivo para alcançar o domínio do instinto é cheia de espinhos, porém eles serão menos perigosos à proporção que a criatura não os fixar em si.
Nas sucessivas encarnações em que o espírito mergulha na matéria densa, vai aos poucos sentindo a possibilidade de aliviar-se do peso da escravidão ao instinto.
Registrando em sua consciência as consequências nefastas de uma submissão indesejável à força animal, chegará, pela experiência própria, a conquistar um grau evolutivo superior no qual possa ver à distância o terreno em que pisa quando ao contato da matéria, estabelecendo rumos novos à própria vida.
O instinto então surgirá diante dele como uma das muitas forças que a Natureza concede com a finalidade grandiosa de plasmar na Terra o reino de Paz e Amor com que sonha sem saber onde buscá-lo.
Glória a Deus, o Senhor de todas as coisas, cuja sabedoria criou as forças da vida com o objetivo sublime do engrandecimento espiritual.
Paz e vitória a todos os homens!
Fonte: Livro “Mensagens do Grande Coração”, Parte 1, Capítulo 20,