O SENTIMENTO DE CONFIANÇA

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NICANOR /América Paoliello Marques

O sentimento de fé anula o sentimento de culpa. Como poderá manter-se envolvido na sensação de ser culpado quem crê na necessidade de renovação da vida?

A contemplação da obra de Deus em sua evolução constante neutraliza a sensação do estacionamento junto ao erro, que dá ao espírito a impressão de regredir. Na realidade, quem estaciona junto às suas culpas regride, pois não acompanha o movimento progressivo de evolução. Quem pára e vê tudo deslocar-se à sua frente, tem a impressão de andar para trás.

Ter fé não é crer em coisas utópicas e impossíveis. É simplesmente compreender e aceitar o mecanismo de evolução da vida sem entravá-la com a própria incompreensão. É aceitar a própria necessidade de reajustamento constante. Por isso tanto se recomenda a humildade a quem deseja progredir. Como aceitará a necessidade de reajustamento diante de uma vida superior que ainda não pode compreender, quem não sente quão pequenas e acanhadas são as próprias diretrizes?

O sentimento de humildade vem aliado ao de fé, não porque haja necessidade de nos anularmos para progredir. Seria um contrassenso. Há necessidade de compreendermos bem que a humildade deve
basear-se num sentimento positivo. Não significa a anulação do eu, mas o seu ajustamento à grandiosidade do conjunto. É um sentimento alegre de irmanação com a obra do Eterno, no qual, diante da grandeza e sabedoria que vibra na Criação, o espírito se felicita por constituir uma parcela mínima deste conjunto, embora também grandiosa em suas possibilidades. Essa atitude mental possibilita renovações sucessivas, reajustamentos constantes. O ser que sentiu a beleza do conjunto, compara-a com sua condição e vê que, embora faça parte desta grandeza, não a atingiu em todas as suas facetas. É também grandioso, mas é aprendiz da imensidão desta obra! Contemplando-a e procurando adaptar-se a ela, vem-lhe a convicção da vitória que o espera e não há mais lugar para o sentimento negativo de culpa. Quem poderá sentir-se culpado junto à vida generosa que o espera?

Sinto que direis: — Há demasiado otimismo nessas afirmações.

É uma questão de atitude mental. Aí está o segredo da fé e do otimismo por ela gerado. A sensibilidade ferida pela dor da dificuldade temporária de ajustamento tende a envolver o espírito na ilusão de que a dor e não a vitória é o objetivo da luta. Nesta substituição gradual de valores, o espírito sente-se submerso nas sensações temporárias, com prejuízo da compreensão completa e absoluta dos problemas da vida.

Há uma programação de conjunto na qual a vitória está destinada a cada pequenino ser. É para esta circunstância que devemos voltar nossa atenção.

Consideramos aqueles que se negam a alimentar o sentimento de fé como almas que se comprazem na autoflagelação. Quem assim procede é o pior inimigo de si mesmo. Descrê de si, entravando seu progresso, e impede que prossiga harmonioso o ritmo de criação na parte que lhe diz respeito!

Tão descrentes se deixam ficar as almas que lutam e só vêem o momento presente, que não aceitam facilmente a ideia de serem possuidoras de uma constituição espiritual dotada de tesouros da vida celestial à espera de polimento.

Compreendem, mas não conseguem sentir-se na posse das capacidades que lhes darão a vitória. Rejeitam sua filiação divina e esperam que a divindade se manifeste em contraposição às suas próprias leis de sabedoria, as quais negam-se a compreender. Em Sua sabedoria, o Senhor se revela no íntimo de cada um através da consciência que desperta no espírito imortal, de ser ele próprio um criador, um deus, um pequeno senhor da vida e de suas leis harmoniosas.

Quando a criatura se une a esta certeza não necessita mais preocupar-se com seus erros. Eles serão vencidos pela convicção de uma capacidade infinita de recuperação e vitória. É este o toque mágico da fé: dar ao ser a consciência do conjunto grandioso do qual faz parte, transmitindo-lhe a convicção de possuir em si uma parcela desta grandiosidade, à sua disposição, podendo manobrá-la na conquista de uma participação maior com a beleza do conjunto que ama.

A fé não é propriedade de espíritos privilegiados; é o único antídoto eficiente no combate aos males do espírito. Não é monopólio das almas que já venceram; é a cura racional para quem se certifica da necessidade de vencer os males do espírito. Em todas as gradações espirituais a fé é necessária. Isto se torna perfeitamente compreensível quando percebemos que, assim como toda viagem tem um rumo pré-traçado, todo espírito precisa conhecer para onde dirige seus esforços. Assim, conhecer a vida espiritual superior e nossa inclusão nos planos da Criação é indispensável a fim de sentirmos a razão da luta e a vitória que lhe é subsequente. É preciso sentir que a vida superior nos pertence!

Não transfiramos a conquista da fé para o futuro, quando já seremos iluminados. Estaríamos colocando a luz no final da estrada e pouco provável seria que a pudéssemos trilhar. A fé em nosso destino glorioso é sentimento que devemos e precisamos urgentemente cultivar no momento presente. Sem ela não há felicidade possível, pois não há confiança e, consequentemente, não há paz para que o Amor verdadeiro possa ser desfrutado!

Nos menores detalhes de vossa vida diária, confiai em que cumprireis a vontade do Senhor o melhor possível e estareis construindo, aos poucos, o sentimento vigoroso de vossa fé na felicidade espiritual indestrutível — patrimônio inalienável de todos os espíritos na Criação.

 

Fonte: TRANSMUTAÇÃO DE SENTIMENTOS -o amor-ciência como caminho,2018, AllPrint (páginas 183 à 186)

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