MERECIMENTO e EVOLUÇÃO

Carlos Torres Pastorino (1910 -1980)
Revista Sabedoria, ano 2.º, n.º 14, pág. 52 (1964)

Temos verificado muita confusão em torno dessas realidades. Definamos:
Merecimento: é uma obra que praticamos e que provocará um carma positivo; é uma causa boa a produzir um efeito bom; é a plantação de uma semente da qual amanhã colheremos frutos sazonados e abundantes.
Evolução: é o aprimoramento próprio interno, que nos faz sintonizar com a divindade, mergulhando-nos como a gota no oceano (Bahá’u’ IJáh).
Acreditam muitos que fazendo obras de caridade, evitando pecados, dando esmolas, estudando livros, interpretando Sagradas Escrituras, distribuindo benefícios, cuidando dos pobres, recebendo espíritos sofredores, conversando com espíritos evoluídos, escrevendo obras esclarecedoras, educando crianças, assistindo velhos, enfim, numa palavra servindo ao próximo, acreditam que estão evoluindo.
Entretanto, evolução não é absolutamente acúmulo de ações nem acréscimo externos (como faz o pedreiro que, empilhando tijolos, unindo-os com argamassa, faz um muro). Essa é uma idéia essencialmente mecânica da evolução. Embora tudo isso ajude a preparar-nos para evoluir, não constitui de modo algum a evolução em si nem mesmo faz evoluir.
Tudo isso trará merecimento: resgatará dívidas do passado, aplainará o caminho do amanhã, conquistará valiosas amizades espirituais e gratidão dos semelhantes, adquirirá “bônus-hora” na permanência no plano astral, preparará encarnações futuras sem grandes lances doloroso, etc. Mas em si, nenhuma, ação traz evolução, porque evolução é vivência.
Evolução é a expansão de nosso eu profundo para uma dimensão mais elevada. E isso só pode obter-se com o despertar das qualidades inatas, com a atualização das potencialidades latentes, tal uma semente que se desenvolve paulatinamente de dentro para fora até constituir-se em árvore, com suas folhas, flores, frutos e sementes de novas árvores.
No entanto, a semente só pode evoluir se encontrar condições ambientes que ajudem. Se ficar guardada num recipiente ou exposta à admiração de todos, sua evolução fica detida, paralisadas quando for enterrada na umidade de uma cova, pisada pelo peso da terra, nas trevas de um abismo se deteriorar, e for rasgada e consumida pela força interna que a faz explodir, então, sim, poderá evoluir: “se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas se morrer dá muitos frutos”. (Jô, 12:24).
Também não devemos confundir evolução com transformismo, isto é, com mudanças de formas, não é atitude externa de um criminoso que o faz tornar-se santo só porque parou de cometer crimes e passou a servir o próximo. Se, por dentro, sua natureza permanece a mesma, com todos os seus impulsos ao erro, o domínio que exerce sobre eles e a contenção “externa” vigorosa o levarão à vaidade de haver vencido, mas isso não é evoluir: só haverá evolução quando não mais sentir impulsos internos ao erro.
O serviço externo tem apenas as serventias de resgatar débitos e de ajudar realmente, proporcionando ao Espírito um veículo cada vez mais capaz de expressá-lo em sua plenitude.
Desçamos a um exemplo prático. Um homem, “A”, quer evoluir. Une-se a um grupo, visita enfermos, estuda e pratica a mediunidade, exige de si mesmo sacrifícios de suas comodidades, mas… no lar, há “alguém” com quem não sintoniza. Para “A”, surge então uma “pedra de tropeço” porque se sente magoado quando dele diverge ou quando é tratado sem as “considerações” a que tem direito por, sua posição sua idade, etc. Em vista disso, vive descontente e irritado. Esse comportamento demonstra que “A” não compreendeu o que é evoluir, e apenas age impulsionado pela personalidade vaidosa.
Na realidade, as “obras” que tenha feito e venha fazendo, serviram apenas para aumentar a vaidade. Tanto que ao alegar suas boas obras, (e jamais deixa de fazê-lo), exprime com isso o “direito” que julga ter adquirido: vaidade exagerada. Se de fato “A” soubesse o que era evoluir, saberia não ter direito algum (“onde começa o direito, acaba o amor”, escreveu Pietro Ubaldi). E, portanto por mais humilhado e pisado que fosse, não só não protestaria como nem sequer se sentiria magoado: intimamente ele sabe que merece muito mais humilhações e delas necessita para evoluir.
Se tivera o sentido da evolução, não faria julgamento de personalidades, mas em cada criatura veria a ação divina a manifestar-se. Olharia seu parente como uma individualidade que se estaria apurando através de uma personalidade sujeita a defeitos, e então procuraria ajudá-lo. Não é a personalidade que determina a superioridade espiritual das criaturas.
E se de fato encontramos esses óbices, temos dois caminhos: ou aceitá-los humildemente, embora soframos – e então evoluiremos, porque para isso são eles colocados em nosso caminho; ou nos rebelamos e nos afastamos – e então comprovamos que não somos sinceros ao dizer que desejamos evoluir: a afirmação desse desejo é mais uma faceta da vaidade, com que nos enganamos a nós mesmos. Todavia, pode perfeitamente ser ainda não saibamos o que é evolução.
A suscetibilidade (muitas vezes apelidada de “sensibilidade”) é a exteriorização da vaidade. Quem deseja evoluir de fato corta sua sensibilidade: nega a própria personalidade totalmente, e aceita as humilhações como grande auxílio para completar a negação de si mesmo. E acaba julgando-as realmente merecidas, chegando enfim a considerá-las instrumentos maravilhosos de evolução, passando então a não sofrer mais com elas.
Nesse ponto, começa a evoluir.
A evolução não virá por meio de ações (por mais meritórias e sacrificiais) que queiramos fazer virá, apenas, quando formos obrigados a fazer e aceitar o que nos for imposto pelas circunstâncias externas.
Não somos nós (Personalidades) que dirigimos nossa evolução: é o Cristo Interno que escolhe para nós o de que mais necessitamos para evoluir. Rebelar-se contra o que vem sobre nós contra a nossa vontade, é revelar que não estamos maduros, que preferimos agradar mais à personalidade vaidosa, a obedecer à vontade divina que nos colocou nessa situação para romper nosso orgulho (como a terra rompe a casca da semente), para quebrar nosso convencimento (como o peso quebra o amargo da semente) para arrastar nosso amor próprio (como a umidade a semente), até que “morramos” em nossa personalidade: “quem ama sua vida, perdê-la-á; mas quem aborrece sua vida neste mundo (personalidade) convertê-la-á para a vida imante” (João, 12:24).
O que vale (já o sintetizou Huberto Rohden) não é o que sabemos, nem o que dizemos, nem o que fazemos, mas sim o que somos. Porque evolução é vivência. Podemos saber tudo, dizer coisas belíssimas, fazer as maiores obras de caridade, desprendimento e sacrifício: se não formos humildes e não amarmos o próximo, perdoando-lhe todos os defeitos sem magoar-nos com eles, mas amando-os cada vez mais e melhor , jamais iniciaremos a estrada da evolução.
Por isso, Paulo escreveu: “Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine. Se tiver o dom da profecia (mediunidade) e souber todos os mistérios e todas as ciências; e se tiver fé a ponto de remover montanhas e não tiver amor, nada sou. Se distribuir todos os meus bens em sustento dos pobres e se entregar meu corpo para ser queimado vivo, se não tiver amor, nada me aproveita. O amor é longânime, é benigno. O amor não é invejoso (ciumento), não se vangloria, não se envaidece, não poria inconvenientemente, não busca os próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não se regozija com a injustiça, mas com a verdade: tudo suporta, tudo crê, tudo espera, tudo sofre” (1 Cor. 13:1-7).
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QUEM FOI CARLOS TORRES PASTORINO
Os dados a seguir foram retirados do site da FEB na parte referente ao lançamento do livro “Impermanência e Imortalidade”, de autoria de Pastorino (já como Espírito desencarnado) através da psicografia de Divaldo.
“Carlos Juliano Torres Pastorino nasceu no Rio de Janeiro em 4 de novembro de 1910 e desencarnou em Brasília (DF), em 13 de junho de 1980. Escritor, jornalista, teatrólogo, radialista, historiador, filólogo, filósofo, professor, poliglota, poeta e compositor. Falava fluentemente vários idiomas, legando-nos inúmeros livros didáticos. Traduziu obras de vários autores ingleses, franceses, espanhóis, italianos, clássicos latinos e gregos.
Desde muito jovem demonstrou destacada inteligência e vocação para a vida eclesiástica. Aos 14 anos de idade recebeu os diplomas de Geografia, Corografia e Cosmografia, do Colégio D. Pedro II e, logo em seguida, ainda no mesmo ano, o diploma de Bacharel em Português, no mesmo colégio.
Viajou para Roma a fim de cursar o Seminário, onde, em 1929, foi diplomado pelo Cardeal Basilio Pompili, para a Ordem Menor de Tonsura. Formou-se em Filosofia e Teologia em 1932, sendo ordenado sacerdote em 1934.
Quando, em 1937, aguardava promoção para diácono, decidiu abandonar a vida eclesiástica. A razão: a recusa do Papa Pio XII em receber o Mahatma Gandhi usando seu tradicional traje indiano. O Colégio Cardinalício exigia que o líder da Índia e apóstolo da não-violência vestisse casaca, para não quebrar a tradição das entrevistas dos chefes de Estado. Diante dessa recusa, Pastorino imaginou que se Jesus visitasse o Vaticano não poderia ser recebido pelo Papa, pois se vestia de forma similar à de Gandhi. Também concluiu que Jesus não se sujeitaria ao rigor exigido pela Igreja.
Regressou ao Brasil, onde desenvolveu intensa atividade pedagógica. No Instituto Italo-Brasileiro de Alta Cultura atuou como professor de Latim e Grego, de 1937 a 1941. Em 1938, tornou-se professor de Psicologia, Lógica e História da Filosofia do Ensino Secundário.
Em paralelo com o magistério, exercia atividades jornalísticas: foi correspondente dos Diários Associados; adido cultural e Jornalístico da Academia Brasileira de Belas Artes; sócio de Sociedades Esperantistas, no Brasil e no exterior; e um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Esperanto, no Rio de Janeiro.
No dia 31 de maio de 1950, terminada a leitura de O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, que lhe fora emprestado por um colega do Colégio D. Pedro II, declarou-se espírita. Desde então guardava a data com muito carinho. Passou a freqüentar o Centro Espírita Júlio César, no Grajaú.
No dia 8 de janeiro de 1951, com um grupo de companheiros, fundou o Grupo Espírita Boa Vontade, cujo nome posteriormente foi mudado para Grupo de Estudos Spiritus. Nesse grupo nasceu o Lar Fabiano de Cristo e o boletim SEI (Serviço Espírita de Informação). Fundou a Livraria e Editora Sabedoria e a revista com o mesmo nome, prestando relevantes serviços à Doutrina, no terreno cultural.
Sua intensa atividade espírita incluía palestras em todo o País e participação ativa em Congressos, Semanas, Simpósios e Cursos espíritas. Fez-se sócio de inúmeras instituições e colaborou com a imprensa espírita nacional e do exterior.
Escreveu mais de 50 livros, sendo que apenas 28 foram publicados. Entre eles o famoso “Minutos de Sabedoria”, “Técnicas da Mediunidade” e o clássico “Sabedoria do Evangelho”, publicado em fascículos na revista “Sabedoria” e que contém textos em grego, latim e hebraico.
Autor de 28 obras publicadas, incluindo-se a “Sabedoria do Evangelho”, da qual somente oito volumes foram editados. Traduziu Pietro Ubaldi, de quem foi amigo, compôs 31 peças musicais para piano, orquestra, quarteto de cordas e polifonia a três e quatro vozes.
IMPERMANÊNCIA E IMORTALIDADE (FEB, 2004)
Primeiro livro de Pastorino na condição de Espírito desencarnado

Impermanência e Imortalidade faz jus ao pensamento do professor Carlos Pastorino, escritor, jornalista, historiador, filólogo, filósofo e tradutor.
A Federação Espírita Brasileira lançou em agosto de 2004, Impermanência e Imortalidade, o primeiro livro de Carlos Pastorino (Espírito), psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco.
Em textos refinados e de profundo conteúdo moral, o autor espiritual abre espaço para a meditação sobre trechos das Escrituras de diversas tradições religiosas e filosóficas. A Bíblia, o Corão e os Vedas merecem citações respeitosas, bem como o pensamento de Buda, Krishna, Sri Aurobindo, Swami Vivekananda, Sócrates, Platão, Krishnamurti, Confúcio e Lao-Tsé. Fazendo preciosos paralelos entre os ensinamentos espíritas e de Jesus – guia e modelo de conduta para o ser humano – e os dos missionários de diversos povos, Pastorino demonstra a força da Verdade universal no ensino das diversas Revelações que foram oferecidas à Humanidade.

