AMOR AOS INIMIGOS? COMO ASSIM?
Eis um desafio prático lançado ao verdadeiro cristão pelo Mestre dos Mestres. O que significa ser um verdadeiro cristão: sair do pedestal das palavras, e “pregar” pelo exemplo, com o coração. Amar os inimigos? Por que? Como?
A palavra “inimigo” no dicionário Houaiss, significa: “1) que se encontra em oposição, que se mostra hostil; contrário, adverso; 2) indivíduo que tem ódio a outro, ou que lhe é antagônico, hostil; em especial, aquele que se empenha em destruir outro, ou causar-lhe danos, em desacreditá-lo, em afastá-lo da posição que ocupa.”
O Cristo não disse “gostai dos vossos inimigos”. Disse: “Amai!”. Ou seja, convidou-nos a aprender a “amar” inclusive as pessoas que não “gostamos”. Como lidar com os conflitos que surgem dentro de nós e fora de nós? Auto-transformação e reeducação de sentimentos: eis o convite amoroso do Mestre. Como agir?
Quem ousou responder tal questão foi o pedagogo Hippolyte-Léon Denizard Rivail, discípulo do notável educador suíço J. H. Pestalozzi, inspirando-se no Sermão da Montanha*, num clássico espírita (ESE, 12: 3)**, que escreveu usando o pseudônimo Allan Kardec. Eis um resumo:
Disse JESUS: Ouvistes o que foi dito: “Amareis o vosso próximo e odiareis os vossos inimigos.” Eu, porém, vos digo: “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos perseguem e caluniam, a fim de serdes filhos do vosso Pai que está nos céus e que faz se levante o Sol para os bons e para os maus e que chova sobre os justos e os injustos. Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa?” (S. Mateus, 5: 43 – 47)
Se o amor do próximo constitui o principio da caridade, amar os inimigos é a mais sublime aplicação desse principio, porquanto a posse de tal virtude representa uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho.
Entretanto, há geralmente equívoco no tocante ao sentido da palavra amar. Não pretendeu Jesus que cada um de nós tenha para com o seu inimigo a mesma ternura que dispensa a um irmão ou amigo… Amar os inimigos não é ter-lhes uma afeição que não está na natureza. O contato de um inimigo nos faz bater o coração de modo muito diverso do seu bater ao contato de um amigo.
O que é, então, “Amar os Inimigos”? É:
- É não lhes guardar ódio, nem rancor, nem desejos de vingança;
- É perdoar-lhes, sem pensamento oculto e sem condições, o mal que nos causem;
- É não opor nenhum obstáculo a reconciliação com eles;
- É desejar-lhes o bem e não o mal;
- É experimentar júbilo, em vez de pesar, com o bem que lhes advenha;
- É socorrê-los, em se apresentando ocasião;
- É abster-se, quer por palavras, quer por atos, de tudo o que os possa prejudicar;
- É, finalmente, retribuir-lhes sempre o mal com o bem, sem a intenção de os humilhar.
Quem assim procede preenche as condições do mandamento Amai os vossos inimigos.
*Capítulos 5 à 7 do Evangelho de Mateus. Sobre o Sermão da Montanha disse Gandhi: “Se desaparecessem todos os livros sagrados da face da Terra, e só restasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido.”
** “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Paris, 1864) Capitulo 12, Item 3

