O SENTIMENTO DE ALEGRIA
NICANOR /América Paoliello Marques
De um modo geral, chama-se alegria à emoção que traduz inconsciência ruidosa dos deveres espirituais e que seria melhor designada pela palavra satisfação, relacionada com sensações e não com sentimentos. É produzida pela libertação dos desejos represados de expandir-se em toda gama de características pessoais, causando um estado de euforia psíquica proveniente da exteriorização de sentimentos e impulsos retidos. Porém, não é a esse mecanismo primitivo de satisfação que poderemos, com propriedade, chamar de alegria. Referimo-nos ao sentimento que proporciona ao ser a consciência plena de sua união com a beleza harmoniosa da Vida. É conseqüência da fé nos próprios destinos e tem a força de relegar a um plano secundário os obstáculos que parecem impedir a evolução. Pode ser definido como a paz conquistada através do reajustamento progressivo à vida espiritual superior.
Sente-se alegre a criança que se recolhe ao regaço materno, embora estivesse satisfeita momentos antes na disputa dos jogos infantis com seus companheiros. Lá, porém, junto à segurança do carinho materno, já desfruta alegria, pois sabe que recebe, sem limitações, o amparo que é a renovação de sua alma.
Ao espírito sequioso de evolução a alegria também é proporcionada através da certeza do Amor Divino a envolvê-lo.
Eis que na cadeia de sentimentos estudados através destas mensagens, chegamos à razão de seu encadeamento. Libertando-se do sentimento deprimente de culpa o espírito vê o Universo em sua grandiosidade, a inspirar-lhe a certeza da própria destinação divina, como herdeiro dos bens da vida! Essa poderosa fé em Deus e em seu próprio destino desperta-lhe a alegria inebriante de participar da harmonia da Criação.
Entretanto, para serem concretizados os sonhos de evolução espiritual não basta lançar-se pelos caminhos da vida. É preciso preparar-se caminhando de forma adequada. Se já sentiu os deveres espirituais que lhe cabem e os executa com persistência e esforço, mas sem alegria, estará agindo como se fosse possuidor de um veículo moderno e o atrelasse a animais de tração. O sentimento subconsciente de culpa impede-o de utilizar o combustível da fé e quando desejar seguir adiante, não conseguirá locomover-se. Se, porém, desfazendo a falsa noção de culpa, consegue despertar novamente a fé em sua libertação espiritual, desfrutará a alegria de um percurso suave em toda a jornada.
É indispensável, pois, que o discípulo, ao recordar o passado, desenvolva a capacidade de sentir essa pura alegria espiritual, compensando-o das profundas angústias causadas pelas verdades amargas que emergem do subconsciente.
Para melhor contornar as dificuldades surgidas ao contato com os erros cometidos é conveniente orientar-se pelo seguinte roteiro:
1 aplicação total às construções positivas do momento que passa, com repúdio ao sentimento de culpa;
2 apreciação da beleza do mecanismo da vida, trazendo-nos magníficas oportunidades de renovação e robustecendo a fé no futuro;
3 desanuviamento da mente através da alegria do progresso espiritual, tendo em vista a felicidade de estarmos incluídos na beleza do Universo.
Não negueis vossa participação na grandiosidade do conjunto universal por um falsa noção de humildade. Este sentimento sublime é uma vibração suave e doce, que invade a alma de quem pode contemplar, em espírito e verdade, a Obra do Eterno, reconhecendo-se como parte integrante do Grande Todo! Entregai-vos à atração que exerce sobre vós a Força Central da Vida pois a ela pertenceis. Penali- zai-vos de quem ainda não se situou nesses termos de angelitude potencial. Discípulos que devassais os arcanos do passado, lembrai-vos de que as circunstâncias passageiras de desajuste não vos perturbarão a caminhada quando sentirdes a alegria íntima do que sois!
Afinal é oportuno e necessário definir o que somos. Seremos nós a soma de enganos passageiros que agasalhamos na mente? Que terá mais força: o plano divino que nos criou para a realização maior ou os equívocos que surgem a todo instante à nossa volta? Seremos um conjunto de pó e lama que restou do intrincado panorama espiritual do passado ou canal receptor da água da vida que nos vem do Criador?! Que utilidade haveria em nos reconhecermos como usinas transformadoras da força em cataratas de luz, se não nos impulsionássemos a utilizá-la com alegria e fé?
No momento em que o discípulo é admitido ao Templo da Verdade cujo lema é: — “Conhece-te a ti mesmo”, tem necessidade premente de abrir os canais da alma ao deslumbramento da vida nova. Ela apresenta a quem recorda o passado com objetivos saudáveis de aprendizagem, dois pratos como uma balança. Num estão colocados os atos pretéritos e no outro as atitudes presentes. Se o aprendiz se puser a chorar sobre o pó das situações mal vividas, esta se transformará em lama e seu espírito tombará sob o peso do remorso destruidor. É preciso procurar o fiel da balança e colocar-se na posição vertical por ele indicada. Para isso torna-se necessária a fé que o fará, alegremente humilde, lançar o sopro da esperança sobre aquela argamassa de pó e lágrimas, transformando-a em poeira que se dispersa! As virtudes conquistadas nas diferentes encarnações surgirão como cristais luminosos transferidos ao outro prato da balança.
Felizes serão os discípulos que enfrentarem com valor esta prova, tornando-se artífices da própria alegria espiritual. Com ela poderão enfrentar melhor a incompreensão dos que não podem acompanhar seus passos na estrada iluminada do Dever, por Amor! O Senhor os abençoará com a renovação mental e espiritual, pois estarão acrescentando, às suas reservas espirituais, mais fé nos seus destinos eternos para que a alegria permaneça em suas almas!
Eu vos saúdo como herdeiros de Deus, irmãos das falanges arcangélicas, virtudes nascentes no solo da Terra, regados que sois constantemente pela Luz que do Alto vos bafeja!
Paz!
[1] Parte 3 – Capítulo 9 do livro “Mensagens do Grande Coração’ (Espíritos Diversos, América P. Marques, 1961).
Essa mensagem também consta de livro Transmutação de Sentimentos, página 187.
