A ARTE DO SILÊNCIO (Iniciação)
Da obra “Evangelho, Psicologia e Ioga”, Capítulo IV
RAMA-SCHAIN/América Paoliello Marques
Preâmbulo
A força que mantém o Universo em equilíbrio – o Amor Universal- é uma energia. A energia está dividida em potencial e dinâmica ou cinética. Essa última tem por objetivo impulsionar o progresso. Todo impulso da energia produz ondas vibratórias e toda onda vibratória produz um som. O som é, pois, cientificamente definido como o “resultado da vibração dos corpos“. Podemos, então, concluir que o Universo está repleto de sons que variam numa escala infinita de harmonia e pureza e que toda essa pulsação de energia tem por finalidade impulsionar os seres para um objetivo a alcançar: a integração com o Todo.
Análise
Analisando esse Universo grandioso onde a bela sinfonia da Criação emite seus sons, veremos que há sete escalas de aperfeiçoamento, nas quais as vibrações se tornam mais e mais quintessenciadas, em virtude do aprimoramento do meio em que se propaga o impulso da energia vital.
Esses sete planos (figura 1) podem ser comparados aos degraus da “escada de Jacó”, através da qual os anjos ou espíritos descem e tornam a subir. Em todos eles há energia vibrando e, portanto, há som compatível com o grau de pureza do meio em que atua. À proporção que o espírito evolui, vai conseguindo distinguir as vibrações de cada um desses planos. Porém, para serem percebidos os sons de um é preciso que se sobreponham aos que pertencem ao imediatamente inferior, pois, embora os sete planos vibratórios do Universo estejam interpenetrados, o superior só é perceptível onde o inferior cessa de prevalecer, visto que a matéria em grau maior de condensação funciona como um véu grosseiro a toldar a visão do que é mais diáfano.
Assim, para percebermos as vibrações do plano astral é preciso que façam silêncio em nossas impressões físicas. Uma emoção forte pode fazer-nos esquecer uma dor, porque o astral vibra com tal intensidade que amortece as impressões da matéria. Quando concentramos a mente em um trabalho, deixamos de perceber as impressões do corpo denso e as emoções do astral. Atingido o nível das vibrações mais purificadas do Amor no plano búdico, esquecemos o que é a mente, a emoção e o corpo físico. Integrados no plano nirvânico, não somos mais seres caracterizados por impressões pessoais de dor ou prazer, raciocínio ou amor. Não há mais necessidades ou buscas porque somos em união com o conjunto e nada nos falta, de nada precisamos, desligados inteiramente dos planos que nos aguilhoavam as necessidades do “eu”. Acima desse plano, cada vez mais, aumenta o processo de silenciar as vibrações dos planos inferiores até que, atingido o progresso máximo, não há mais necessidade das energias impulsionadoras, pois alcançou-se o objetivo da integração com o Todo. Não havendo impulsos energéticos, não há mais ondas vibratórias e não se produz mais som: atingiu-se o estágio onde somente se percebe a Voz do Grande Silêncio, cuja essência ainda não nos é possível analisar. Então tudo é realizado por um processo de escoamento natural da Luz, que se diferencia dos impulsos da energia, característicos do processo de retorno ao Centro da Vida. Não há mais conquista através do impulsionamento. Há escoamento de uma força já conquistada, por processos que fogem à concepção dos seres ainda na fase de subida.
Trazemos esse estudo com o objetivo de demonstrar a necessidade do silêncio, não só sob o ponto de vista de evitar a divulgação daquilo que não pode ainda ser compreendido por nossos semelhantes, como também para esclarecer as razões pelas quais o silêncio é uma virtude que se revela naturalmente, à proporção que o ser consegue identificar a superioridade do plano imediato àquele em que costuma permanecer. O amor à Verdade, expresso na evolução, leva-nos a sentir a necessidade de silenciar para buscar em nosso íntimo os valores que aí se encontram latentes. Quando sentirmos a alegria de colher as bênçãos proporcionadas pelo silêncio, introduzindo-nos à paz de um plano superior, facilmente pagaremos o tributo que a descoberta dos valores eternos nos impõe. Em especial, essa necessidade de silenciar se faz indispensável aos iniciados para preservar os trabalhos realizados no plano astral. Essa recomendação baseia-se em uma causa “física” e “mecânica”. O pensamento toma força criadora e origina a imagem, à qual imprime movimento, em processos que, por analogia, poderíamos designar de “físicos” e “mecânicos”. As vibrações de um plano devem ser inacessíveis às do inferior. Só aquele que sabe calar as vibrações grosseiras do plano físico pode, com êxito, ligar-se às do astral. Se “bombardearmos” constantemente nossas realizações delicadas do astral com as impressões inferiores do plano físico, terminaremos por deformá-las sob os moldes de nossas concepções grosseiras. Da mesma forma, se dentro do plano físico nos ligarmos excessivamente ao astral, produziremos uma interpenetração forçada de nossa consciência em dois planos simultaneamente. Eles então, ao invés de permanecerem como dois degraus nitidamente definidos, misturam-se na mente encarnada, diluídos ambos em suas possibilidades reais.
A mente física, abafada que é no olvido temporário, tem sua percepção limitada. Se gira constantemente em torno dos delicados trabalhos espirituais, deforma-os, atingindo-os na delicadeza de sua constituição mental ou astral e aqueles planos superiores (o mental e o astral) que deveriam permanecer livres das vibrações do plano físico, tornam-se envoltos pela bruma constrangedora das emanações das mentes encarnadas, que podem, inclusive, moldar na sutil matéria daqueles planos.
Nossos pensamentos e palavras são emissões de energias que a vontade se incumbe de moldar de acordo com as concepções pessoais e as formas criadas aderem aos ambientes ou situações a que se referem, tomando vida que lhes é dada por nós. Por isso, os planos em que são realizados os trabalhos espirituais devem ser inacessíveis às nossas projeções mentais quando fora desses trabalhos. Em caso contrário, estaremos colaborando com aqueles que desejam perturbar-nos. Dentro de um certo limite, conseguimos contornar as dificuldades surgidas pela constante imantação mental dos médiuns aos trabalhos, permanecendo a seu lado como sentinelas. Porém, numa fase de maior desenvolvimento espiritual, não se justifica tal proceder, pois já vos encontrais esclarecidos para exercer vigilância que não deveis transferir a nós. Os trabalhos espirituais, ao atingirem certo vulto, não nos permitem evitar as conseqüências nefastas da invigilância, em virtude mesmo do aprendizado individual que temos o dever de estimular em vós.
Os pensamentos e palavras emitidos em torno do trabalho são como sons vibrados e que ficam a ressoar nos planos a que se dirigem, impregnando aquela área que deveria ser impenetrável pelas vibrações de um entendimento acanhado. No momento do trabalho elas serão identificadas pelos médiuns e pela corrente. Se, porém, os pensamentos e palavras forem trocados no ambiente da sessão, estareis envolvidos por uma vibração capaz de isolar esses planos das sugestões indesejáveis, pois disciplinadamente deixastes para desfazer vossas dúvidas em um ambiente no qual facilmente elas se diluem envoltas pelas sugestões positivas das mentes encarregadas de satisfazer vossas necessidades de progresso. Em circunstâncias inadequadas, muitas vezes nos é impossível encontrar elementos para esse trabalho de auxílio e a sugestão negativa toma corpo e vai cumprir sua missão perturbadora.
Conclusão
Para finalizar nossa exposição, queremos recordar-vos os fatos narrados pela Bíblia em torno da muralha de Jericó. Iniciados que eram, os condutores do povo hebreu conheciam profundamente a força das ondas vibratórias e sem armas materiais visíveis, conseguiram, à custa de vibrações sonoras ritmadas, derrubar as muralhas da cidade que lhes impedia a conquista da Terra da Promissão.
Todo trabalho iniciático é executado dentro de muralhas protetoras, erguidas pelos espíritos encarregados de zelar pela segurança dos que se abrigam à sombra do templo da iniciação. Se, ao se retirarem da sala de trabalho, os próprios iniciados se reunirem ao exército inimigo para repetir cadenciadamente o clamor do negativismo, certamente que essas muralhas ruirão e não haverá possibilidade de mantê-las de pé, a não ser que, verificando a catástrofe causada, haja a firme determinação de romper a ligação feita com as forças contrárias e reiniciar arduamente a reconstrução das muralhas defensivas, cuja preservação dependerá de um propósito inabalável de modificar o proceder desavisado.
Irmãos amados, sobre vós lançamos nossas vibrações de esperança no futuro. Se chegamos a entendimentos tão claros é justamente porque vossos esforços já nos permitiram abrir novos horizontes às realizações que amamos e se há quem ronde as vossas muralhas defensivas, há também turmas que se revezam na reconstrução da segurança para melhor servirdes ao Senhor.
Que vossos dirigentes se façam guardiões dessas muralhas, orientando as turmas de trabalho na sua preservação. Não há tempo a perder e toda disciplina é exigida de um exército em situação de alerta. Novas batalhas surgirão e deverão encontrar a todos vigilantes em seus postos de trabalho.
Paz,
Rama-Schain